domingo, 30 de novembro de 2008

vida sóbria


Ao ler a primeira epístola de Pedro me surpreendi com o uso contínuo de uma palavra. Pedro, em diversos momentos, fala sobre ser sóbrio. Nunca tinha reparado no uso desta palavra na Bíblia, mas ao fazer uma pesquisa rápida, vi que existem diversas ocorrências. São dezessete no total. Todas são feitas por Paulo e por Pedro. Existem dois significados, um diz respeito à sobriedade física e outra diz respeito à sobriedade mental. Seis têm um sentido físico e onze têm um sentido mais mental.

A sobriedade é uma característica do ser humano. Digo isto, porque a sobriedade tem a ver com a razão e o modo como a razão tem domínio sobre os sentidos; de tal forma que os sentidos permanecem ávidos e afiados. Quando alguém está embriagado, o que acontece é que a razão é diminuída e os sentidos se tornam mais lerdos, é como uma sonolência. O que eu percebo então, é que a sobriedade é algo que caracteriza o ser humano como ser humano, enquanto que a embriagues é desumanizadora. Veja que para tornar a idéia mais clara, foi necessário usar o exemplo da sobriedade física – que inevitavelmente afeta a sobriedade mental. Mas, creio que a sobriedade mental é muito mais complexa e significativa.

Quando Paulo ou Pedro diz que os cristãos são chamados para serem sóbrios, vejo nisto uma grande verdade. Só para nos localizarmos, as duas passagens que servem como exemplos são Tito 2:12 e 1 Pedro 4:7. Na primeira passagem, Paulo agrupa sobriedade com justiça e piedade (no sentido religioso). Essa é a significância da sobriedade; Paulo está colocando ela em equidade com a justiça e a piedade.

Ao que me refiro quando falo sobre sobriedade? Como disse logo acima, a sobriedade é uma característica do ser humano, pois diz respeito à razão. O homem é o único ser neste mundo dotado da razão e a partir do momento em que algo tira a sobriedade do homem, o homem se coloca em uma posição inferior ao que ele é. A sobriedade também tem a ver com uma mente saudável. A mente do homem deve ser exercitada e estimulada de tal forma que fique saudável ou sã. Quando o homem age com bom senso, aí ele está exercendo a sua sobriedade.

Se isso é verdadeiro para o homem natural, quanto mais para o cristão. Por isso os apóstolos os chamam para viver com sobriedade, porque não há ninguém neste mundo mais apto a viver sóbrio do que o cristão. O homem foi criado por Deus à Sua própria imagem. Adão foi criado sóbrio, com uma mente sã. O pecado desumanizou o homem, ou seja, fez com que o homem virasse algo inferior ao que ele era. A salvação que Deus concede ao homem envolve a regeneração; o que dá de volta ao homem características humanas que ele havia perdido por causa do pecado. Deus nos deu a sobriedade de volta e devemos praticá-la, assim como devemos praticar a justiça recebida e a piedade recebida. Imagine que a sobriedade mental, que é muito mais séria, é algo que o cristão tem o dever de exercitar, quanto mais ainda a sobriedade física; não deveria nem ser considerada a possibilidade de um cristão se embriagar com algum tipo de substância. Ser sóbrio, para o cristão, é utilizar a razão e o senso para viver consciente da vida de Deus em nós. É viver o propósito para o qual Ele nos criou. É viver como seres humanos mais humanos, ou seja, mais à semelhança de Deus.

domingo, 9 de novembro de 2008

cuidado com a podridão


Há muito tempo tenho pensado sobre a perecibilidade das coisas. Como cristão e tendo minha vida delineada pela Palavra de Deus, devo olhar para a vida com uma perspectiva coerente com aquilo que Deus diz. Ele nos fala que existem coisas eternas e coisas passageiras e que nós, humanos, somos feitos de matéria perecível e de substância eterna. Por causa dessa duplicidade, o homem deve lidar com o eterno e o passageiro em seu caminhar. Os cristãos, segundo a Bíblia, devem viver de acordo com a eternidade, pois eles têm a vida eterna e sua cidadania celestial é eterna. Não há nada de errado com o perecível, porém o lugar dele é em submissão ao eterno e não de supremacia.


Não é nem preciso falar sobre a importância das coisas materiais, na verdade, é necessário falar sobre a sua falta de importância. A tendência é darmos mais valor ao material e ao temporário, pois estes agradam ao corpo, ou às sensações. O prazer proporcionado pelo corpo é imediato e, por isso, nós temos a tendência de priorizar esse tipo de prazer. Nós, cristãos, também sentimos prazer nas coisas espirituais e eternas, porém o prazer é diferente. Ele atinge as sensações, porém não as corporais. Seu resultado, na maioria das vezes, é mais sutil, dando assim a impressão de menos prazer. Mas, ao contrário do prazer corporal, que passa rápido e não satisfaz a alma, o prazer espiritual é de longa duração e satisfaz o espírito.


É um pouco difícil caracterizar a perecibilidade da matéria. Claro que me refiro a uma perspectiva diferente da química e biológica. Todos sabem que o prazer do corpo é algo passageiro. Todos sabem que a fome é saciada por um bocado de comida. A sensação de satisfação permanece por um pouco e logo depois a fome vem de novo. Levando isso para outro nível. Todos sabem que o dinheiro, a fama etc. não são prazeres duráveis. A alegria permanece desde que as coisas permaneçam. Mas, pelos milhares de exemplos que conhecemos, sabemos que tudo, tudo mesmo vai passar. Se não passar nesta vida, pelo menos vai passar quando morrermos. Ninguém leva os seus tesouros materias no caixão (até os dentes de ouro ficarão por aqui). Mesmo assim, como é difícil ensinar alguém a deixar de viver em função dessas coisas não é? Ainda mais difícil é ensinar a nós mesmos a não viver assim.


Nessa semana eu li algo muito interessante que me levou a pensar da seguinte maneira. Todos desejam a glória, a fama, o dinheiro e o sucesso de muitas personalidades da História. Por exemplo, como é instigante ler sobre como os reis do Egito eram considerados deuses e como eles estavam cheios de honra. Também é muito invejável lermos sobre o poder e sucesso militar de imperadores da antiguidade. Pessoas tais como Alexandre, o Grande e os Césares romanos. Todos gostariam de ter a fama deles, as riquezas deles, seu poder, suas mulheres etc. Mas vejam bem, ninguém gostaria de ser Faraó no momento em que foi acometido com 10 pragas e morreu no meio do Mar Vermelho como um nada, um grão de areia na imensidão das águas. Ninguém gostaria de ser Alexandre, o Grande quando acometido de diversas doenças e morrendo antes de completar os 33 anos de idade, sem ter alcançado o que queria. Ainda menos, querem ser como Nero que foi perseguido e acabou se matando ou como Cláudio, assassinado por envenenamento. Nenhum deles conseguiu sustentar a sua fama até o fim. Tudo acabou, pois é isso que acontece com o que é perecível. A sua natureza é acabar.


A matéria tem um início, um ápice e um fim. Todos querem o ápice e quando pensam nas coisas materiais, só pensam no ápice. Se esquecem que pra conseguir tudo isso será necessário dar tudo de si. Terão que viver em função do alvo almejado. Mas, pior ainda, se esquecem que depois do ápice haverá um declínio que pode ser tão repentino a ponto de tudo sumir de um dia para o outro. Ainda pior do que isso, se esquecem que quando a matéria não desaparece, ela apodrece e cheira mal. No fim, o que todos têm desejado hoje, é o lixo de amanhã. O que eles tanto querem hoje, é o esgoto de amanhã. O que todos querem para si hoje, é a morte de amanhã.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

deuses inimigos

Talvez um dos livros históricos mais intrigantes da Bíblia, é Juízes. Existem histórias ali que mal podemos acreditar que tenham acontecido no meio do povo declarado ser o povo de Deus. Na minha leitura deste livro me deparei com um acontecimento que não é peculiar a este livro. Porém, a forma como a história é descrita me chamou atenção.

Refiro-me a Juízes 10:6-13. Há ali a descrição da idolatria do povo de Israel, até aqui nada de novo, mas é descrito ali o nome de dois deuses (Baal e Astarote) e o fato de Israel estar adorando os deuses da Síria, Sidom, Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus. Estas nações são mencionadas muitas vezes desde Êxodo até dia o fim do Velho Testamento (algumas mais do que outras). Quem são esses países? Esses são os ocupantes anteriores da terra que Israel conquistou. Sendo assim, são os inimigos de Israel. Pra mim, foi incrível ver que o povo de Deus desprezou o culto a Deus - e com isso, desprezou o próprio Deus – para servir aos deuses de seus inimigos.

O que acontece depois disso? Esses outros povos começam a ameaçar os israelitas e a lutarem contra eles. Essa é a atitude natural dos inimigos. Nesse momento Israel percebe o seu próprio infortúnio. Eles se vêm adorando aos deuses dos seus inimigos e estes, vêm contra eles. Pra quem Israel pedirá ajuda? Para os deuses que estão cultuando? Mas, estes são os deuses dos seus inimigos. Não há nada mais estúpido do que isso. É nesse momento que eles percebem a ignorância daquilo que estavam fazendo e buscam o socorro de Deus.

Esta é uma história que parece muito absurda pra nós, mas sejamos realistas e vamos tentar achar algo parecido no nosso tempo. Quantos são aqueles que conhecendo a Deus preferem cultuar os deuses inimigos? São muitos os que ouvem e falam sobre Deus, mas ao invés de confiarem nEle (ver nEle motivo de confiança, que é um dos frutos de se cultuar a Deus), acabam confiando nos deuses inimigos. No Novo Testamento existem três inimigos a serem vencidos: o diabo, o mundo e a carne (pecado). Bom, o diabo está fora de questão, mas e os outros dois? Com que freqüência nós desprezamos a Deus e nos entregamos aos deuses inimigos?

Não é difícil encontrar cristãos que têm o dinheiro, a fama, o trabalho, o sucesso profissional, a pessoa amada, entre outras coisas, como deuses. Todas essas coisas que têm a ver com o mundo e com a carne se transformam em deuses e nós rendemos culto a eles. A lição que aprendemos do Velho Testamento é que o povo, ao desprezar a Deus e se entregar aos deuses inimigos, acabou sendo angustiado pelos próprios inimigos, pois a natureza do inimigo é lutar contra nós. Não vamos achar que será diferente conosco. O mundo e a carne, nossos inimigos, lutam contra nós, mas nós, ao invés de lutarmos contra eles, os adoramos como deuses. O resultado é óbvio, angústia e sofrimento. Aqueles que têm o dinheiro como deus, sofrerão pelo dinheiro, os que têm o sucesso como deus, sofrerão pelo sucesso e assim por diante Só não sofreremos quando tivermos como nosso deus, o verdadeiro Deus. Aquele que não é nosso inimigo, mas que no leva a caminhar num caminho de paz. Enquanto o mundo, a carne e o diabo batalham contra nós, Deus batalha por nós.