terça-feira, 30 de dezembro de 2008

quem quer mudar?


É indubitável que ao chegarmos a uma certa idade, nós começamos a pensar no passado. Isso não acontece somente com os nossos pais ou avós, também acontece com a gente. Por exemplo, eu, com quase 25 anos, já tenho vários momentos em que me pego pensando no meu tempo de faculdade ou no tempo de colégio. As lembranças ficam guardadas e estão sempre disponíveis na nossa mente pra quando precisarmos delas. Ao pensar no passado, nas coisas que fizemos, é quase inevitável imaginarmos como seria se tivéssemos feito isso ou aquilo de uma forma diferente. Acabamos pensando que talvez não deveríamos ter feito aquilo e que deveríamos ter feito aquilo outro. A nossa tendência é querer ter a chance de voltar atrás e mudar algumas coisas. Claro que essa chance nunca virá.


Por outro lado, quando chega o fim de um ano, as pessoas começam a pensar ansiosamente sobre o ano que virá. Amanhã, bilhões de pessoas, literalmente, pensarão sobre 2009. A grande maioria fará promessas e a minoria conseguirá cumpri-las. Esse contraste entre o passado e o futuro é menor quando pensamos que em ambos os casos desejamos viver de uma maneira diferente do que no presente. O engraçado é que quase cem por cento das pessoas desejaria ter mudado algo no passado. Não é possível viver de uma forma diferente no passado, mas as expectativas quanto ao futuro são bem grandes. Mas, quando o futuro se torna em presente e elas têm a oportunidade de mudar algo realmente, elas não fazem nada e o presente se torna passado, acumulando assim mais uma história que gostaríamos de ter vivido de maneira diferente.


Por que é tão difícil mudar e começar a fazer as coisas como nós gostaríamos de fazer? Sei que existem aquelas pessoas que pensam em coisas bem simples como assistir menos televisão e ler mais livros. Mas, mesmos esses hábitos, aparentemente insignificantes, se tornam praticamente imutáveis quando tentamos mudá-los. Isso acontece porque os hábitos se tornam um comportamento e um comportamento acaba se tornando um traço da personalidade. Aquilo que a gente acha ser só um hábito, na verdade já se tornou parte de você mesmo e por isso é tão difícil mudá-lo.


Aí está o perigo. A grande maioria das pessoas usa como desculpa para fazer algo moralmente incorreto ou socialmente recriminável, que isso acontece só de vez em quando ou então, que será só uma vez ou ainda, que será a última vez. Todos já usamos essa desculpa. Parece que nós conseguimos nos enganar com maior facilidade do que qualquer outra pessoa. Mas, aos nos enganarmos, nos esquecemos que esse hábito raro, irá se tornar mais e mais comum até chegar o ponto em que você não mais conseguirá se livrar dele.


Todos iremos errar e sempre olharemos para trás pensando que poderíamos ter feito melhor. E sempre olharemos para o futuro com o desejo de acertar mais do que no passado. No fundo, o ser humano parece ter algo indicando que deveríamos ser melhores do que somos. Porém, quão poucos são aqueles que, tendo consciência disso, viverão o presente para melhorar quem são. O homem não consegue mudar quem é e melhorar a sua vida, mas ao mesmo tempo, tem o desejo de fazer isso. A única resposta que existe pra essa luta se encontra na Bíblia em Gênesis capítulo 3. E, a única solução que existe pra isso se encontra em Lucas capítulo 2. Se você tem real interesse em viver de uma maneira melhor, se você quer viver o presente sem ter medo de que ele se torne um passado que você gostaria de mudar, então procure a resposta e a solução que só a Bíblia pode dar.


Feliz ano novo!

domingo, 30 de novembro de 2008

vida sóbria


Ao ler a primeira epístola de Pedro me surpreendi com o uso contínuo de uma palavra. Pedro, em diversos momentos, fala sobre ser sóbrio. Nunca tinha reparado no uso desta palavra na Bíblia, mas ao fazer uma pesquisa rápida, vi que existem diversas ocorrências. São dezessete no total. Todas são feitas por Paulo e por Pedro. Existem dois significados, um diz respeito à sobriedade física e outra diz respeito à sobriedade mental. Seis têm um sentido físico e onze têm um sentido mais mental.

A sobriedade é uma característica do ser humano. Digo isto, porque a sobriedade tem a ver com a razão e o modo como a razão tem domínio sobre os sentidos; de tal forma que os sentidos permanecem ávidos e afiados. Quando alguém está embriagado, o que acontece é que a razão é diminuída e os sentidos se tornam mais lerdos, é como uma sonolência. O que eu percebo então, é que a sobriedade é algo que caracteriza o ser humano como ser humano, enquanto que a embriagues é desumanizadora. Veja que para tornar a idéia mais clara, foi necessário usar o exemplo da sobriedade física – que inevitavelmente afeta a sobriedade mental. Mas, creio que a sobriedade mental é muito mais complexa e significativa.

Quando Paulo ou Pedro diz que os cristãos são chamados para serem sóbrios, vejo nisto uma grande verdade. Só para nos localizarmos, as duas passagens que servem como exemplos são Tito 2:12 e 1 Pedro 4:7. Na primeira passagem, Paulo agrupa sobriedade com justiça e piedade (no sentido religioso). Essa é a significância da sobriedade; Paulo está colocando ela em equidade com a justiça e a piedade.

Ao que me refiro quando falo sobre sobriedade? Como disse logo acima, a sobriedade é uma característica do ser humano, pois diz respeito à razão. O homem é o único ser neste mundo dotado da razão e a partir do momento em que algo tira a sobriedade do homem, o homem se coloca em uma posição inferior ao que ele é. A sobriedade também tem a ver com uma mente saudável. A mente do homem deve ser exercitada e estimulada de tal forma que fique saudável ou sã. Quando o homem age com bom senso, aí ele está exercendo a sua sobriedade.

Se isso é verdadeiro para o homem natural, quanto mais para o cristão. Por isso os apóstolos os chamam para viver com sobriedade, porque não há ninguém neste mundo mais apto a viver sóbrio do que o cristão. O homem foi criado por Deus à Sua própria imagem. Adão foi criado sóbrio, com uma mente sã. O pecado desumanizou o homem, ou seja, fez com que o homem virasse algo inferior ao que ele era. A salvação que Deus concede ao homem envolve a regeneração; o que dá de volta ao homem características humanas que ele havia perdido por causa do pecado. Deus nos deu a sobriedade de volta e devemos praticá-la, assim como devemos praticar a justiça recebida e a piedade recebida. Imagine que a sobriedade mental, que é muito mais séria, é algo que o cristão tem o dever de exercitar, quanto mais ainda a sobriedade física; não deveria nem ser considerada a possibilidade de um cristão se embriagar com algum tipo de substância. Ser sóbrio, para o cristão, é utilizar a razão e o senso para viver consciente da vida de Deus em nós. É viver o propósito para o qual Ele nos criou. É viver como seres humanos mais humanos, ou seja, mais à semelhança de Deus.

domingo, 9 de novembro de 2008

cuidado com a podridão


Há muito tempo tenho pensado sobre a perecibilidade das coisas. Como cristão e tendo minha vida delineada pela Palavra de Deus, devo olhar para a vida com uma perspectiva coerente com aquilo que Deus diz. Ele nos fala que existem coisas eternas e coisas passageiras e que nós, humanos, somos feitos de matéria perecível e de substância eterna. Por causa dessa duplicidade, o homem deve lidar com o eterno e o passageiro em seu caminhar. Os cristãos, segundo a Bíblia, devem viver de acordo com a eternidade, pois eles têm a vida eterna e sua cidadania celestial é eterna. Não há nada de errado com o perecível, porém o lugar dele é em submissão ao eterno e não de supremacia.


Não é nem preciso falar sobre a importância das coisas materiais, na verdade, é necessário falar sobre a sua falta de importância. A tendência é darmos mais valor ao material e ao temporário, pois estes agradam ao corpo, ou às sensações. O prazer proporcionado pelo corpo é imediato e, por isso, nós temos a tendência de priorizar esse tipo de prazer. Nós, cristãos, também sentimos prazer nas coisas espirituais e eternas, porém o prazer é diferente. Ele atinge as sensações, porém não as corporais. Seu resultado, na maioria das vezes, é mais sutil, dando assim a impressão de menos prazer. Mas, ao contrário do prazer corporal, que passa rápido e não satisfaz a alma, o prazer espiritual é de longa duração e satisfaz o espírito.


É um pouco difícil caracterizar a perecibilidade da matéria. Claro que me refiro a uma perspectiva diferente da química e biológica. Todos sabem que o prazer do corpo é algo passageiro. Todos sabem que a fome é saciada por um bocado de comida. A sensação de satisfação permanece por um pouco e logo depois a fome vem de novo. Levando isso para outro nível. Todos sabem que o dinheiro, a fama etc. não são prazeres duráveis. A alegria permanece desde que as coisas permaneçam. Mas, pelos milhares de exemplos que conhecemos, sabemos que tudo, tudo mesmo vai passar. Se não passar nesta vida, pelo menos vai passar quando morrermos. Ninguém leva os seus tesouros materias no caixão (até os dentes de ouro ficarão por aqui). Mesmo assim, como é difícil ensinar alguém a deixar de viver em função dessas coisas não é? Ainda mais difícil é ensinar a nós mesmos a não viver assim.


Nessa semana eu li algo muito interessante que me levou a pensar da seguinte maneira. Todos desejam a glória, a fama, o dinheiro e o sucesso de muitas personalidades da História. Por exemplo, como é instigante ler sobre como os reis do Egito eram considerados deuses e como eles estavam cheios de honra. Também é muito invejável lermos sobre o poder e sucesso militar de imperadores da antiguidade. Pessoas tais como Alexandre, o Grande e os Césares romanos. Todos gostariam de ter a fama deles, as riquezas deles, seu poder, suas mulheres etc. Mas vejam bem, ninguém gostaria de ser Faraó no momento em que foi acometido com 10 pragas e morreu no meio do Mar Vermelho como um nada, um grão de areia na imensidão das águas. Ninguém gostaria de ser Alexandre, o Grande quando acometido de diversas doenças e morrendo antes de completar os 33 anos de idade, sem ter alcançado o que queria. Ainda menos, querem ser como Nero que foi perseguido e acabou se matando ou como Cláudio, assassinado por envenenamento. Nenhum deles conseguiu sustentar a sua fama até o fim. Tudo acabou, pois é isso que acontece com o que é perecível. A sua natureza é acabar.


A matéria tem um início, um ápice e um fim. Todos querem o ápice e quando pensam nas coisas materiais, só pensam no ápice. Se esquecem que pra conseguir tudo isso será necessário dar tudo de si. Terão que viver em função do alvo almejado. Mas, pior ainda, se esquecem que depois do ápice haverá um declínio que pode ser tão repentino a ponto de tudo sumir de um dia para o outro. Ainda pior do que isso, se esquecem que quando a matéria não desaparece, ela apodrece e cheira mal. No fim, o que todos têm desejado hoje, é o lixo de amanhã. O que eles tanto querem hoje, é o esgoto de amanhã. O que todos querem para si hoje, é a morte de amanhã.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

deuses inimigos

Talvez um dos livros históricos mais intrigantes da Bíblia, é Juízes. Existem histórias ali que mal podemos acreditar que tenham acontecido no meio do povo declarado ser o povo de Deus. Na minha leitura deste livro me deparei com um acontecimento que não é peculiar a este livro. Porém, a forma como a história é descrita me chamou atenção.

Refiro-me a Juízes 10:6-13. Há ali a descrição da idolatria do povo de Israel, até aqui nada de novo, mas é descrito ali o nome de dois deuses (Baal e Astarote) e o fato de Israel estar adorando os deuses da Síria, Sidom, Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus. Estas nações são mencionadas muitas vezes desde Êxodo até dia o fim do Velho Testamento (algumas mais do que outras). Quem são esses países? Esses são os ocupantes anteriores da terra que Israel conquistou. Sendo assim, são os inimigos de Israel. Pra mim, foi incrível ver que o povo de Deus desprezou o culto a Deus - e com isso, desprezou o próprio Deus – para servir aos deuses de seus inimigos.

O que acontece depois disso? Esses outros povos começam a ameaçar os israelitas e a lutarem contra eles. Essa é a atitude natural dos inimigos. Nesse momento Israel percebe o seu próprio infortúnio. Eles se vêm adorando aos deuses dos seus inimigos e estes, vêm contra eles. Pra quem Israel pedirá ajuda? Para os deuses que estão cultuando? Mas, estes são os deuses dos seus inimigos. Não há nada mais estúpido do que isso. É nesse momento que eles percebem a ignorância daquilo que estavam fazendo e buscam o socorro de Deus.

Esta é uma história que parece muito absurda pra nós, mas sejamos realistas e vamos tentar achar algo parecido no nosso tempo. Quantos são aqueles que conhecendo a Deus preferem cultuar os deuses inimigos? São muitos os que ouvem e falam sobre Deus, mas ao invés de confiarem nEle (ver nEle motivo de confiança, que é um dos frutos de se cultuar a Deus), acabam confiando nos deuses inimigos. No Novo Testamento existem três inimigos a serem vencidos: o diabo, o mundo e a carne (pecado). Bom, o diabo está fora de questão, mas e os outros dois? Com que freqüência nós desprezamos a Deus e nos entregamos aos deuses inimigos?

Não é difícil encontrar cristãos que têm o dinheiro, a fama, o trabalho, o sucesso profissional, a pessoa amada, entre outras coisas, como deuses. Todas essas coisas que têm a ver com o mundo e com a carne se transformam em deuses e nós rendemos culto a eles. A lição que aprendemos do Velho Testamento é que o povo, ao desprezar a Deus e se entregar aos deuses inimigos, acabou sendo angustiado pelos próprios inimigos, pois a natureza do inimigo é lutar contra nós. Não vamos achar que será diferente conosco. O mundo e a carne, nossos inimigos, lutam contra nós, mas nós, ao invés de lutarmos contra eles, os adoramos como deuses. O resultado é óbvio, angústia e sofrimento. Aqueles que têm o dinheiro como deus, sofrerão pelo dinheiro, os que têm o sucesso como deus, sofrerão pelo sucesso e assim por diante Só não sofreremos quando tivermos como nosso deus, o verdadeiro Deus. Aquele que não é nosso inimigo, mas que no leva a caminhar num caminho de paz. Enquanto o mundo, a carne e o diabo batalham contra nós, Deus batalha por nós.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

com o coração na língua por Sinclair Ferguson


Esse é o segundo post de autoria de outrem. Sinclair Ferguson é um ministro fiel. Escocês de nacimento, ele tem se dedicado ao ministério da Palavra por meio da pregação, autoria de livros e edição de livros. Atualmente ele ministra numa Igreja Presbiteriana na Carolina do Sul, Estados Unidos. Foi ali, num conferência organizada por John Piper, que ele disse essas palavras:

Uma das coisas que a Bíblia nos ensina é que nós somos uma unidade. Por isso, cada aspecto do nosso ser, me parece, transparece quem nós realmente somos naquilo que a Bíblia diz ser o nosso coração. É isto que claramente permanece como direção central que impulsiona a identidade do nosso ser. Eu creio que porque o modo de comunicação que nós usamos mais é o falar, este é o primeiro e mais óbvio lugar onde nós iremos revelar nosso coração. Eu acho que nós o revelamos de outras formas, mas pode ser que estejam disposicionalmente escondidos. Na verdade, em tudo o que fazemos ou toda reação que temos, é uma expressão de nós mesmos. Eu realmente acho que um princípio norteador daquilo que eu estou fazendo no ministério do Evangelho e na exposição das Escrituras, é enfatizar que tudo o que eu faço não é uma aberração, mas uma revelação de quem eu realmente sou.

As Escrituras usam uma linguagem bem forte sobre como a língua é uma porta aberta. Na verdade, eu usei uma ou duas vezes, recentemente, que a imagem que eu tenho da língua na minha mente é aquela dos filmes antigos que eu costumava ver. Na era pré-moderna, se eles queriam expressar a disseminação de alguma notícia incrível, eles mostrariam um bando de repórteres correndo para os telefones e os pegando para ligar para os jornais. Então você veria os rolos de jornais sendo impressos. Este era o jeito, eu acho, na tecnologia pré-moderna, de tentar expressar que a notícia se espalhava pra todo lugar. Eu comecei a pensar, pelo menos isso me ajuda, que a maneira que nós usamos a nossa língua como aquele grupo de repórteres correndo para o mundo para dizer o que está acontecendo dentro do coração.

Então, no caso das palavras duras de nosso Senhor aos fariseus – o que eu penso trazer questões derradeiras sobre a, assim chamada, nova visão dos fariseus – Ele reservou sua linguagem mais confrontante para eles. O que ele realmente estava dizendo o tempo todo era que o veneno estava em seus lábios. E, isto quer dizer que você não pode continuar usando sua boca sem que o veneno saia. Aí, você se torna tão acostumado com o sabor do veneno que você nem percebe que ele está ali. Existem várias manifestações óbvias disso no modo como as pessoas usam o nome de Deus em vão. Sem pensar, sobre as palavras cruéis que usam, elas se tornam quase como pontuações em seus vocabulários. Eles se tornam tão acostumados com o veneno que eles nem o sentem mais. De novo, isso volta àquilo que eu acho ser um princípio básico de todos em direção à santificação. Caminhar para santificação envolve o Senhor nos mostrando como é aquele processo demorado, a demora da herança do veneno do pecado, que uma vez reinou. O vínculo ainda está lá, mesmo que o pecado não reine mais; e, a vida de santificação está ali, está vindo a ser, e virá na experiência da revelação do meu coração e isso sairá pelos meus lábios. A única forma de ter uma língua santa, é ter um coração limpo.

nossa posição e condição

Uma das maiores lutas travadas pelos cristãos diz respeito ao seu andar em santidade. Esse foi o assunto tratado dois posts atrás, onde escrevi sobre a luta pela santidade. Temos um novo coração, mas ainda há em nós aspectos da velha natureza e, assim, está armado o campo de batalha entre esses dois. Nesse momento, porém, quero tratar de algo que está acima dessa batalha. Claro que haverão perdas e ganhos, mas o que faremos quando perdemos?
Nas perdas, será que temos de desconfiar da nossa salvação? Ficaremos desesperados e nos entregaremos ao que é velho? De forma alguma!

É do entendimento geral, pelo menos deveria, que Israel é como um protótipo da Igreja (mesmo que parte de Israel realmente faça parte da Igreja). Quase tudo, se não tudo, do que é dito sobre Israel pode ser aplicado à Igreja. Em Miquéias 7:8 lemos o seguinte: ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. É totalmente desnecessário dizer que Israel caiu, caiu e caiu. Miquéias fala aqui sobre uma dessas quedas.

O que ele diz é que o povo de Deus pode até cair, mas ele se levantará. Ele se levantará, não porque ele é forte e poderoso, mas porque Deus é forte e poderoso. O que é dito é que o justo pode até manchar a sua condição, mas ele jamais cairá de sua posição. Por que é assim? Porque a condição do crente, se ele está crescendo e amadurecendo na fé, é algo que pressupõe esforço de sua parte – ainda que receba muita ajuda divina. Já a sua posição de alguém que é salvo, não depende de seus esforços, mas do esforço do próprio Deus. Por ser assim, a posição do filho de Deus não muda por conta de seus tombos, mas a sua condição muda. Uma não muda, por depender de Deus exclusivamente e a outra muda, por depender, não exclusivamente, do próprio homem.

Fica clara, então, a importância do entendimento da salvação unicamente pela Graça. Há a esperança de salvação, exatamente porque é algo operado exclusivamente por Deus e, o mesmo pode ser dito sobre a perseverança dos santos. Deus, não nós, é a luz no meio das trevas. Na verdade, nós fazemos parte das trevas. O fato de podermos nos levantar e caminhar, é porque adiante de nós está Deus, como uma luz que ilumina o nosso caminho para que não mais tropecemos. Nossa confiança deve estar na nossa posição (Deus nos colocou no caminho) e não na nossa condição (estamos em pé ou caímos).

terça-feira, 21 de outubro de 2008

a intolerância da tolerância por D.A.Carson

Nunca postei textos de outras pessoas aqui, mas vou abrir algumas exceções nesses próximos posts. Vou começar por este texto que eu transcrevi e traduzi de um sermão de D.A.Carson que está disponível aqui. É um texto totalmente atual e cada linha é rica em sabedoria. Aproveitem!

É importante entender que a noção de tolerância neste sentido tem uma certa herança intelectual que tem sido mudada pelo pós-modernismo. No paradigma modernista, a tolerância parece com isso: Eu posso discordar de você, mas eu insisto no seu direito de articular sua opinião, não importa quão estúpida e ignorante eu penso que ela seja. Em outras palavras, isto significa que há tolerância em favor do indivíduo para falar coisas com as quais eu discordo. Tolerância vai de encontro com indivíduos. Mas, há um ferrenho debate no nível do conteúdo e da substância. Então, eu posso discordar profundamente com a interpretação histórica marxistas, mas eu sou uma pessoa tolerante de acordo com o regime moderno. Eu insisto no direito da historiografia marxista de articular suas opiniões, mas ao mesmo tempo, de acordo com a visão ocidental de tolerância e no campo moderno, eu insisto no direito do capitalista de articular suas visões e do teísta articular suas visões ou o que for, não importa o quão certo ou errado eu acho que eles estejam. Então, a não ser que seja algo profundamente conturbante para o bem estar público; como por exemplo, alguém que chega para advogar veementemente a pedofilia.

Então a noção de tolerância de permite a defender quase todos ensinando quase tudo.
Porque de acordo com o paradigma modernista, a suposição é que, na área da disputa das idéias, a verdade virá à tona. Existe uma verdade para ser procurada. Existe uma verdade para ser buscada. A verdade é, em última análise, desejável e apreensível. Em outras palavras, esta visão de tolerância está presa a uma certa visão da verdade, uma certa epistemologia. Mas, uma vez que você muda a epistemologia e perde a visão da verdade, a própria tolerância é redefinida.

Agora, tolerância significa que você não pode dizer que ninguém está errado. Está é a coisa errada a dizer. Mas agora perceba, nesta visão de tolerância, você não é tolerante com os indivíduos, você é tolerante com as posições. Agora, tolerância é dirigida a todas as visões que são articuladas, porque você não está na posição de dizer que nenhuma visão é errada. A única coisa que não é tolerada é a visão de que esta visão de tolerância é errada. É isso que você tem, a intolerância da tolerância. Pior, se alguém chega e diz que está visão de tolerância é errada – de acordo com esta nova visão de tolerância – esta pessoa não é tolerante e por isso, essa pessoa não pode ser tolerada. Esta pessoa é uma intolerante.

Porque não há entendimento de tolerância dirigida aos indivíduos, mas somente às idéias – com exceção da idéia que diz que essa visão de tolerância é errada. Por isso, o campus universitário pode se tornar um lugar muito amedrontador para qualquer um que diz talvez haver um certo e um errado absolutos no fim das contas ou uma verdade absoluta.
Eu argumentaria que esta visão de tolerância é, de fato, logicamente incoerente. Eu não digo simplesmente que é inconsistente, é inconsistente, pois prova ser intolerante. Mas eu não me refiro a isso, eu digo ser algo pior. Eu creio ser incoerente, porque a própria noção de tolerância, de acordo com qualquer regime, pressupõe que você deve discordar de alguém ou algo, antes que você possa tolerá-lo. Você vê, seu eu digo, no meu campus universitário, que eu tolero alguém que promove o islã ou o marxismo ou qualquer coisa, eu tenho que discordar primeiro, antes de usar a palavra tolerar. Se eu digo, que você não está nem mais certo e nem mais errado do que eu e eu concordo com você, eu te tolero. É incoerente, nem faz sentido.

Para ser capaz de tolerar alguma coisa você deve discordar com a mesma em primeiro lugar. Mas, se de fato você não está numa posição de dizer que nenhuma posição está errada, como você pode falar em tolerar algo? Por isso eu argumento que esta nova definição de tolerância não é somente inconsistente, é incoerente e prova, de fato, ser menos tolerante do que o tipo de tolerância que existia no modernismo. Porque no ponto exato onde discorda mais com a posição intolerante, ela acaba eliminando todos os oponentes como intolerantes e ignorantes e, por isso, se torna, de fato, totalitária.

luta pela santidade



Em 2 Coríntios 7:1 Paulo faz uma exortação aos membros da Igreja daquela localidade. A exortação segue assim: purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. Claro que toda a instrução que diz respeito à santidade cristã, não é simples e nem fácil. O apelo de Pedro, parafraseando o Velho Testamento, para que os cristãos sejam santos, como Deus é santo ou para que sejam perfeitos, como Deus é perfeito, não é de forma alguma uma tarefa de fácil realização. Mas, a dificuldade jamais nos será desculpa para a negligência.

Creio que existem dois pontos de difícil entendimento sobre a doutrina da santificação. A primeira é a sua conciliação com a regeneração ou novo nascimento. Se, pelo poder do Espírito Santo, nascemos de novo, por que ainda existe impureza no nosso coração? E, a segunda dificuldade está na impossibilidade da perfeição. Somos exortados a sermos completamente puros e perfeitos, mas esta é uma tarefa impossível de ser cumprida aqui (1 João 1:8). Será que há alguma justificativa para as diversas exortações para sermos santos, para nos apresentarmos perfeitos diante de Jesus etc.? Creio que há sim.

Com relação à segunda dificuldade podemos dizer o seguinte. Não precisamos chegar à perfeição. As exortações para que nos purifiquemos ou nos santifiquemos, não dão expectativas de que isso poderá ser feito. Mas, nos exortam no sentido de que é este o caminho que os filhos de Deus devem trilhar. Paulo diz que devemos realizar isso no temor de Deus, ou seja, a busca pela santidade é baseada na reverência e respeito à pessoa de Deus. Assim como Pedro diz, porque Ele é santo ou porque Ele é perfeito, façamos tal e tal coisa. A santidade está baseada, não na esperança de a alcançarmos com perfeição, mas na exigência feita pelo próprio Deus. Quem o ama, deve praticar aquilo que Ele diz (João 14:21). A santidade é obediência aos mandamentos de Deus. Mandamentos esses que expressam a pessoa de Deus, pois Suas palavras são revelações de Seu ser.

Quanto à primeira dificuldade, a situação é mais delicada. A regeneração é um fato, não há como questioná-la. A regeneração envolve um novo coração. Talvez essa seja a doutrina mais maravilhosa de toda a Bíblia. Deus troca corações de pedra por corações de carne. Corações endurecidos pelo pecado por corações amolecidos pelo Seu amor. Por que então ainda há pecado em nós? Obviamente, temos que entender que Deus faz as coisas com propósitos definidos e, estes propósitos, são bons. Sendo assim, o fato de Deus ter deixado em nossos novos corações um restolho de pecado deve ter algum propósito. Creio que a melhor ilustração disso vem do Velho Testamento. Deus não deu uma terra para o povo na qual ninguém habitava. Não era um lugar despovoado e sem inimigos. Deus deixou na terra prometida uma quantidade de inimigos para que o povo pudesse lutar contra eles. Podemos tirar muitas lições disso, mas a principal delas é que Deus prometeu que os inimigos seriam vencidos. O restolho de pecado em nossos corações é um inimigo cruel. Muitas vezes ficamos embasbacados com os maus pensamentos que nos atacam, os maus desejos que nos vem, as tentações sensuais que aparecem etc.

Este restolho é só um restolho, mas está sempre em busca de se manifestar, sempre querendo se revelar maior do que é e, com isso, tentando nos fazer pensar que ele é a grande parte. Mas isso é uma mentira. Temos um novo coração com um restolho de pecado e não um amontoado de pecado com um pouco de novo coração.Deus nos deu um novo coração que é apto a obedecer aos Seus mandamentos. Ele não nos daria algo inferior. A exortação à santidade poderia ser resumida no seguinte. Não deixe que o restolho do pecado em você se revele de maneira desproporcional ao que ele é. Deixe que o seu novo coração se manifeste e se revele, pois dessa forma esse restolho será cada dia mais suprimido. O inimigo existe aí para ser vencido. A batalha é dura, conquistas e derrotas acontecerão, mas a promessa de Deus é que a vitória já veio e é nossa em Cristo Jesus. A vitória que temos garantida, não deve nos fazer preguiçosos nessa luta, mas é o que deve nos motivar ainda mais para prosseguirmos nessa grande guerra contra o pecado

sábado, 4 de outubro de 2008

a grande apostasia



Eu nunca fui muito chegado a ler, e muito menos a escrever, sobre assuntos escatológicos. Tenho três causas pra isso. Em primeiro lugar está a complexidade do assunto; apesar da quantidade significativa de trechos bíblicos que falam sobre os acontecimentos dos últimos dias, tanto no N.T. quanto no O.T., a grande maioria não fala com muita clareza e, normalmente, estão inseridos em contextos que falam sobre outros assuntos. Outra causa, é porque cada geração acaba interpretando os acontecimentos de uma maneira a trazer a Parousia (segunda volta de Jesus) para o seu próprio tempo. Isso aconteceu e acontece porque os últimos dias são mencionados na Bíblia como incluindo toda a era cristã e não somente aos últimos 100 dias do mundo ou algo assim. E, por último, por causa da minha insuficiência intelectual pra lidar com o assunto.

Porém, nesses últimos dias eu tenho pensado e orado sobre este tema e assim me sinto mais confortável para escrever algumas coisas. O que mais tem ocupado a minha mente quando penso nos últimos dias é a apostasia que tem que acontecer. Escolhi especificamente o texto de 1 Timóteo 4:1, que diz: Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios. Mas existem muitos outros (a carta de Judas inteira; Atos 20:29,30; 2Pedro 3:3,16 e 17). Em muitos textos que dizem sobre os últimos dias, a apostasia, ou o desvio da fé, é mencionada. Essa é uma característica dos últimos dias, um tempo onde muitos daqueles que professam a fé em Cristo, na verdade provarão não fazerem parte da Igreja, do corpo de Cristo (1 João 2:19).

Em alguns textos, como em 1Timóteo 4, é dito que os apóstatas fazem exigências de abstinência mais duras do que o devido e falam que por meio disso obterão a salvação. Porém, em outros textos, é dito que os apóstatas são aqueles que acham que já que a salvação é garantida por Jesus, então tudo é permitido. Nos dois casos, a apostasia consiste dos que um dia professaram a fé verdadeira e faziam parte da comunhão da Igreja, mas acabaram abandonando a fé, distorcendo-a para se adequar a alguma outra filosofia. A apostasia é sempre uma hipocrisia, pois tem um pouco de verdade misturada com a mentira. Obviamente que hoje vivemos nos últimos dias e, por isso, vivemos um tempo de grande apostasia. Na verdade, parece que a apostasia vai se acumulando, pois os erros nunca morrem por completo, mas vão tomando outras formas. Essas diferentes formas se tornam cada vez mais sutis e devastadoras.

Hoje vivemos um tempo onde milhares e milhares de pessoas se dizem cristãs e freqüentam alguma igreja. Mas, definitivamente, são apóstatas, pois acreditam em distorções do verdadeiro evangelho e as propagam. São hipócritas que vivem uma mentira e acreditam estarem na verdade. Um ponto interessante no texto de 1Timóteo 4 é que Paulo diz que a apostasia não é quando o camarada assumi a sua mentira, não é quando há separação e surge uma nova seita, como no caso dos Testemunhas de Jeová e Mórmons; não, mas a apostasia acontece no momento em que a verdade é negada, mesmo que a pessoa continue a fazer parte de uma igreja. Por exemplo, a igreja católica é apóstata, mesmo que se considere a verdadeira Igreja. Para Paulo, a essência da apostasia é essa sutileza devastadora e mesmo que nunca surja uma seita oficial, ainda assim são apóstatas.

Eu acredito que, mesmo que não haja a necessidade dessa confissão oficial do erro, haverá um momento em que muitos se afastarão por completo até dos prédios das igrejas. A fé dos apóstatas é muito frágil e se baseia naquilo que é passageiro (prosperidade pessoal, paz internacional, bons relacionamentos, boas obras, racionalidade, evolução etc.). O momento em que o mundo enfrentar uma crise mundial, seja financeira, como nós poderemos ver logo, ou política, acarretando numa guerra (o que não é tão difícil no meio de uma crise financeira). Nesses momentos de insegurança e desconforto, é bem provável que os apóstatas irão assumir a fragilidade de sua fé e se afastarão totalmente da Igreja verdadeira. Parece que esse momento está muito próximo e aí então veremos quem são as ovelhas e quem só tem a fantasia de ovelha. Vigiais, pois, porque não sabeis a hora (Mateus 24:42).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

casamento, sexo, ajuntamento etc.

Hoje, mais do que nunca, a Igreja tem sido influenciada pelo modo de viver e de pensar do mundo e isso tem afetado muitas crenças básicas do cristianismo. Houve, no começo do século 19 um movimento teológico chamado de liberal (liberal porque não cria que a Bíblia era a palavra de Deus, ou seja, a verdade e dava liberdade de interpretação sem mais estar presos ao princípio de verdade objetiva) que abriu as portas para que isso acontecesse. Por ser um movimento teológico, os primeiros pontos atacados eram de cunho teológico, mas com o passar do tempo, o liberalismo foi influenciando outros aspectos do cristianismo, aspectos do viver diário cristão. Hoje em dia, existe discussão dentro da Igreja sobre questões que os cristãos de séculos passados jamais imaginariam que seriam questionados. Toda a discussão sobre o homossexualismo, aborto, uso de drogas e outras questões, tem sido muito influenciada pela forma de pensar do mundo. Quero chamar a atenção para o que venha a ser a verdade bíblica sobre um assunto muito discutido hoje em dia, que é o casamento.

Diferentemente do que os cristãos sempre pensaram, hoje em dia é bastante aceitável que casais de namorados (vale lembrar que essa coisa de namoro é coisa bem recente) façam sexo antes do casamento. Muitos são os argumentos para que isso aconteça; alguns são totalmente inadequados e outros possuem algum peso para a discussão. Dos piores argumentos, creio que aquele que diz que o casal deve se “experimentar” antes, pois assim vão saber se há uma boa “química” entre eles, é o pior. Dos melhores, talvez o melhor seja aquele que diz que sexo é casamento, pois Paulo diz que aquele que se une com uma prostituta é uma só carne com ela (1 Cor. 6:16); e se é assim, todas as outras coisas (celebração religiosa, exigências governamentais etc.) são invenções das culturas e dispensáveis para que Deus reconheça um casamento.

Escrevo sobre este assunto por dois motivos. Em primeiro lugar porque eu fui enredado e cri que sexo era casamento, de acordo com a explicação dada do texto de 1 Coríntios. Felizmente não cheguei a pecar por causa disso, mas fui enganado. E, em segundo lugar, porque hoje, casado há dois anos, posso ver mais claramente o grande erro que muitos jovens têm acreditado e com isso, têm vivido uma vida de irresponsabilidade e pecado. Será que Paulo estava errado em dizer o que disse? Será que a única exigência para que haja um casamento é o sexo? Será que todo o resto não tem nenhum valor diante de Deus? É com essas questões que lidaremos agora.

Creio que a resposta mais importante nesta discussão é saber o que Paulo quis dizer quando escreveu que o homem que se deita com a prostituta se torna uma só carne com ela. Ali, Paulo está lidando com a licenciosidade dos crentes de Corinto. Muitos estavam vivendo em meio à prostituição achando que aquilo não era pecado. Sendo assim, Paulo esclarece a profundidade que tem a relação sexual, dizendo que o sexo torna as duas pessoas como um só corpo e assim, o cristão estava, através do sexo, fazendo o corpo de Cristo se ajuntar com uma prostituta. Hoje em dia precisamos muito deste ensino, pois muitas pessoas não conseguem ver que o sexo é ato de profunda intimidade e não um ato sem importância. Paulo estava lidando com este problema, sua intenção não era dizer o que o casamento era. Digo isso porque o casamento não é somente se tornar um só carne através do sexo, pois muitos homens são uma só carne com prostitutas, mas ainda assim não estão casados com elas.

Neste mesmo trecho, Paulo fala sobre o cristão como fazendo parte do corpo de Cristo e, diferente das crenças de algumas religiões antigas, onde o sexo era parte integrante do culto para que houvesse a relação com o deus ou deusa, no cristianismo nossa união com Cristo se deu por meio de Seu sangue e é mantida pela nossa comunhão e pelo nosso viver com Ele. Sexo é parte integrante do casamento, mas está longe de ser a única parte. O viver juntos é de grande importância também, tanto é que, no estabelecimento dos princípios do casamento por Deus, é dito que o homem deixará a sua casa e se unirá à sua mulher. Esta união de comunhão é, juntamente com o sexo, um pilar do casamento. Então, com sexo, mas sem união, não há casamento.

E o que podemos dizer daquilo que hoje é feito como cerimonial de casamento (a festa, as assinaturas, os votos, as testemunhas etc.)? É necessário admitir duas cosias aqui. Muitas formas de cerimônia são realmente invenções culturais, mas fique claro que não é a cerimônia em si, mas a forma da cerimônia. E, que muitos cristãos tradicionais enfatizaram e enfatizam pontos não tão importantes do casamento, deixando os jovens receosos sobre o que é realmente exigido por Deus.

É possível haver casamento sem vestido de noiva, bolo, festa para 100 pessoas etc.? Com certeza, mas é preciso ficar claro que algumas coisas que parecem ser desnecessárias, são, na verdade, as mais importantes. Os votos e as testemunhas são essenciais. Em toda a Bíblia, existem indícios de que os votos são importantes em uma cerimônia religiosa (Deut. 12:11); assim, o que é dito, é dito diante de Deus e com testemunhas. Sendo assim, certa cerimônia é exigida. Como ela será feita, não interessa, mas deve ser feita como forma de uma apresentação diante de Deus e isso não pode ser feito somente entre o casal, mas deve envolver a família e testemunhas. Poderíamos até comparar um pouco da cerimônia do batismo que é feita com votos diante de Deus e de testemunhas. O casamento civil também é necessário, pois o casamento é um ato civil com implicações civis e os cristãos devem andar em conformidade com as leis, desde que elas não andem em desacordo com as próprias leis de Deus.

Casamento é um lindo presente que Deus deu aos homens e mulheres, mas infelizmente essa beleza está se perdendo, seja pela freqüente imoralidade e irresponsabilidade, ou por ficar opaco diante de tantos enfeites exorbitantes como num casamento de princesa. Mas, nós cristãos, somos chamados para sermos exemplos e mostrarmos a essência daquilo que Deus estabeleceu como um símbolo da própria união de Cristo com a Sua Igreja (Efésios 5:32) e não para nos adequarmos aos pensamento do mundo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Igreja templo ou Igreja tabernáculo?

Dois foram os lugares da habitação de Deus – quero lembrar que aqui não vou me deter na explicação da adoração a Deus em espírito e em verdade, sabemos muito bem que Deus não habita, ou não se limita, a um lugar ou a uma edificação - na história de Israel. Após terem saído do Egito, Deus deu ordens a Moisés para que preparasse o tabernáculo. Este local seria utilizado para realizar as ofertas, os holocaustos e a adoração a Deus. Após o estabelecimento do povo na terra prometida por Deus, Canãa, surgiu um novo desejo em Davi para se fazer uma construção monumental que viria ser a Casa de Deus. Davi não realizou seu desejo por que Deus o proibiu, e quem colocou em prática o projeto que Deus deu a Davi foi seu filho Salomão.

O tabernáculo era basicamente uma tenda com grandes proporções. Sua estrutura era de cordas, cortinas de pêlos de cabra, tábuas de madeira e cortinas de linho e estofo. Toda descrição se encontra no livro de Êxodo. A maior característica do tabernáculo era sua mobilidade, afinal o povo estava peregrinando pelo deserto em direção à terra prometida. O povo não podia ficar preso em um único lugar, o tabernáculo tinha que poder ser montado e desmontado de acordo com a necessidade de mudança de local.

Já o templo era uma edificação monumental. Obviamente que a grandeza do templo não pode ser comparada com edificações modernas, pelo menos não no que diz respeito ao seu tamanho. Ainda assim sua beleza de detalhes e riqueza de aparatos ainda podem ser muito admiradas. O fato de Davi ter desejado construir o templo pode ser explicado de duas formas. A primeira é porque Davi achou que Deus estava sendo menosprezado por “habitar” numa tenda e o segundo motivo é que o povo estava estabelecido na terra prometida já havia algum tempo, não havia mais a necessidade da mobilidade que o tabernáculo oferecia.

Os dois lugares ofereciam ao povo a oportunidade de adorar a Deus, mas cada um deles foi feito por ocasiões diferentes. O que gostaria de pensar neste momento é qual desses dois lugares expressa melhor a forma como a Igreja deve ser no nosso tempo. Será que a Igreja de Jesus Cristo está no momento adequado de ser comparado ao templo ou ao tabernáculo?

A resposta a essas perguntas deve ser direcionada pelo momento em que vivemos. Assim como o lugar da habitação de Deus na época dos israelitas se deu ao momento em que eles viviam.

Vamos primeiro pensar na ocasião do templo. O templo foi construído porque o povo já havia se estabelecido na terra prometida. Na Bíblia, existe uma conotação espiritual pata a terra prometida. É dito que um dia o povo de Deus, gentios e judeus, habitará na Nova Jerusalém. Pra mim essa é uma indicação de que o povo de Deus ainda não alcançou essa terra prometida, ainda não estamos estabelecidos no lugar onde Deus nos prometeu. Por isso, creio que a Igreja não pode ter uma estrutura tal como a do templo, não estamos vivendo o momento para isso. Estar preso a um determinado lugar é simplesmente perder de vista o propósito real da Igreja de Cristo na terra, é perder de vista, e não entender, qual é o momento que vivemos.
Sendo assim, eu acredito que a Igreja deve ser melhor comparada com o tabernáculo, pois este foi construído na época da peregrinação do povo. Como eu já disse em outro post, e não preciso me repetir, os cristãos são peregrinos. Como pode um peregrino se estabelecer em um lugar definitivamente? Isto exclui a própria natureza do peregrino, que é a sua mobilidade, se mudando de um lugar para o outro.

O que eu realmente quero dizer com isso? Obviamente não quero dizer que as igrejas devem sair das construções de alvenaria e fazer suas reuniões em grandes tendas (se bem que isso até seria interessante). Não, assim como a terra prometida tem uma conotação espiritual na Bíblia, é bom nós entendermos que a Igreja tem uma essência espiritual que vale muito mais do que sua estrutura física. Com isso, eu digo que a estrutura da Igreja, não a física, mas a sua essência, deve ser simples, leve, móvel e isso tudo irá possibilitar a mobilidade necessária para que a Igreja cumpra realmente o seu chamado de proclamar a mensagem de Deus, o evangelho de Cristo, até os confins do mundo.

Essa característica da essência irá refletir em ações e também na própria estrutura física das igrejas. Por exemplo, entre as prioridades dos gastos, não estará compra de novas cadeiras, compra de equipamentos de som, construção de cantinas, acarpetamento do piso entre outras coisas de mesma natureza. As prioridades estarão nos projetos sociais da igreja ou de outras organizações, no envio e sustento de missionários, investimento na preparação de membros que desejam servir com mais qualidade dentro da igreja etc.

Vivemos no deserto e não na terra prometida, o momento em que vivemos e, consequentemente, nossa essência irão definir a nossa estrutura. Infelizmente as igrejas têm errado nessas duas coisas, elas não entendem o momento em que vivemos e não entendem qual venha a ser a sua essência. Por isso, vemos tantos missionários sem sustento, tantos projetos sociais falidos, tanta pobreza e tanto descuido da igreja em tudo isso, mas ao mesmo tempo vemos tantos prédios e tantos púlpitos suntuosos, tantos equipamentos de som que dão inveja a estúdios profissionais, tanto ar condicionado, tanto carpete, tanta cadeira amofadada, tudo para fazer com que os membros se sintam o menos desconfortáveis possível. Assim, a Igreja se imobiliza, matando a sua própria natureza, sua própria essência de mobilidade.

Estejamos com lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão, comeremos às pressas; essa é a Páscoa do Senhor (Êxodo 12:11, essa é a Igreja do Cordeiro pascal).

domingo, 7 de setembro de 2008

pobre rei


Salmo 40:17 – Pobre e necessitado sou, mas o Senhor cuida de mim.
Quem vem a ser esse pobre e necessitado? Ninguém menos do que Davi, um rei altamente estimado por seu povo e pelos reis de outros povos. Cheio de riqueza e poder, mas ainda se vendo como um ser pobre e necessitado. Aqueles que imaginam que a riqueza, a popularidade, o sucesso profissional entre outras coisas semelhantes, são coisas que fazem o homem se sentir afortunado, se enganam. E, seu engano, é um engano que diz respeito à constituição do ser humano. O homem é mais do que o seu corpo e sua mente e, por isso, ele não se satisfaz com aquilo que toca somente o corpo e a mente. Sendo assim, homens poderosos e ricos como Davi, podem sim se ver como pobres e necessitados.

O fato da pessoa se sentir pobre e necessitada não a coloca numa situação de esquecimento por parte de Deus. A tradução da Bíblia em inglês substitui o verbo cuidar pelo verbo pensar. Deus pensa a respeito daquela pessoa, no caso Davi. A afirmação que Davi faz, antes de obter o livramento de suas tribulações, é uma confirmação de que mesmo tendo Deus como libertador e salvador, ainda haverão momentos de necessidade, momentos de tribulação, momentos de escassez etc. O que importa não é a prosperidade ou a falta dela, mas a certeza de que Deus cuida de mim ou que Deus pensa ao meu respeito. Essa é a verdade realmente importante, pois é por meio desta certeza que podemos ter esperança de que tudo está bem, pois Deus cuida de mim. A riqueza e a paz deste mundo não são certificados de que tudo irá bem. Em primeiro lugar porque, como eu já disse, o homem precisa de muito mais do que somente aquilo que afeta seu corpo e sua mente e, em segundo lugar, porque a riqueza deste mundo pode desaparecer com um sopro e a paz deste mundo, que poderia ser mais bem descrita como trégua, sempre tem a possibilidade de findar. As coisas deste mundo não têm condições de cuidar de mim, pois elas acabam, não podem em hipótese alguma dar esperança.

Outra questão importante é que Deus pensa a nosso respeito mesmo sendo nós pobres e necessitados. Quanto mais elevado o “status” de uma pessoa, menos ela se importa com aqueles que estão em situação inferior. A tendência é sempre nos nivelarmos em nossas relações e preocupações. Um presidente de multinacional vai se relacionar com pessoas que estejam no seu padrão social e suas preocupações não são referentes ao que é comum. Pela Graça, temos um Deus que, mesmo sendo o mais poderoso, rico, sábio (palavras são realmente insuficientes para descrevê-lO), ainda assim se preocupa com seres tão pequenos e, como se a nossa pequenez não fosse suficiente, sujos. Em outro Salmo é dito, quem é o homem para que Se importe com ele? E este mesmo teor de incompatibilidade entre Deus e o homem existe nesse verso do Salmo 40.

Não posso deixar de escrever sobre o fim do verso 16 que está em conexão com esta declaração aqui. É dito no verso 16 que aqueles que amam a salvação de Deus, devem sempre dizer: O Senhor seja magnificado! As pessoas que amam a salvação sabem que esta vem de Deus e não delas mesmas. Isso se relaciona com o versículo 17, pois aquele que ama a salvação de Deus e sabe que somente Ele merece receber toda honra e toda glória por isso, também sabe que é assim porque somos pobres e necessitados. A palavra necessitado, em outras versões é substituída por miserável. Ambas são perfeitas descrições do ser humano, pois ambas indicam o seu estado de total falência e perdição, o que o torna totalmente dependente da ajuda de Deus. Vale lembrar que Davi está se referindo as suas tribulações terrenas, como traição, guerra ou algum outro problema desse tipo. Se o homem, nestas questões terrenas, já são necessitados da ajuda de Deus, quanto mais ainda no que diz respeito às questões espirituais. Somos pobres e necessitados em diversos aspectos, mas acima de todos, somos necessitados em nossa condição espiritual.

Sabemos então que Deus, somente Ele, é o nosso libertador e por isso podemos fazer essa afirmação mesmo antes que venha a libertação. Também por isso é que temos o dever de dar somente a Deus toda honra e glória pela libertação e juntos dizer que o Senhor deve ser magnificado. O Senhor é o nosso libertador, não Te detenhas (Salmo 40:17).

domingo, 24 de agosto de 2008

os herdeiros

Muitas vezes ao ler o Novo Testamento eu acabo me surpreendendo com as interpretações de textos do Antigo Testamento feitas por Jesus e pelos apóstolos. Eles sempre trazem um entendimento muito inovador sobre os relatos históricos e proféticos. Textos como Joel 2 citado por Pedro no dia do Pentecostes, Gênesis 2 citado por Paulo em 1 Coríntios 11 e diversas citações feitas por Jesus nos evangelhos, como a história de Davi e seus companheiros comendo os pães da proposição (Mateus 12), são os tipos de citações que me chamam a atenção. Por causa disso, muitas vezes quando leio o Antigo Testamento e encontro uma história difícil de entender, eu imagino como seria a interpretação de Jesus ou dos apóstolos. Um desses textos é o relato de como Jacó enganou Isaque e recebeu dele as bênçãos que deveriam ser pronunciadas a Esaú (Gênesis 27).

Jacó já havia enganado Esaú e com isso tinha roubado o direito de primogenitura. Com isso, ele conseguiu algumas vantagens que não lhe eram por direito anteriormente, mas, aparentemente, a benção patriarcal era algo mais significante do que o direito legal da maior parte da herança. A dificuldade do texto se encontra no fato de Jacó ter enganado, mentido, roubado e tudo isso em parceria com sua mãe Rebeca. A questão é que tudo isso se encaixa na vontade de Deus, sabemos isso porque Paulo esclarece que Deus amou a Jacó e se aborreceu de Esaú antes de tudo isso, além de ter prometido para Rebeca que o mais novo serviria o mais velho. É uma tarefa difícil e que demanda muito tempo colocar pecados morais em conformidade com a vontade de Deus e por isso não o farei aqui. O que eu quero focar é a questão da herança e da benção que aparentemente deveriam pertencer a Esaú, mas acabaram sendo dadas a Jacó.

Ser da descendência de Abraão era algo muito importante para os israelistas, eles falam sobre isso com muito orgulho e menosprezavam os outros povos, ou mesmo os próprios descendentes de Abraão que haviam se misturado com outras nações (os samaritanos, por exemplo). Faziam isso porque tinham o entendimento de que ser da descendência de Abraão significava ser herdeiro da aliança que Deus havia feito com o seu ancestral. Esse entendimento estava correto, mas eles erraram na interpretação de quem eram os descendentes de Abraão.

Quanto a isso, Jesus e Paulo falaram de maneira esclarecedora. Os israelitas viam a descendência como sendo algo puramente físico, algo genealógico. Mas, Jesus disse aos fariseus que se eles fossem mesmo descendência de Abraão, eles fariam as mesmas obras de Abraão (João 8:39). Por sua vez, Paulo disse que nem todos os que são de Israel, são israelitas (Romanos 9:6). Como isso esclarece a história de Esaú e Jacó? Aquele que tinha direito “legal” a herança era Esaú, assim como os descendentes genealógicos de Abraão eram participantes da aliança, mas quem decide quem será o herdeiro não é homem. A aliança e a herança de Deus é dada àqueles a quem Ele quer dar. Deus não quis dar a herança a Esaú, Ele quis dar a Jacó. Deus não quis que todos os descendentes de Abraão (Ismael, os filhos que Quetura deu a Abraão – Gen. 25 – entre outros) fossem herdeiros da Aliança.

Jesus, por meio de seu ensinamento a respeito do Reino, inaugurou um novo entendimento do que viria a ser a descendência de Abraão. Ela não seria mais, na verdade nunca foi, algo físico, não mais uma questão de quem é circuncidado na carne, mas é uma questão de quem tem o coração circuncidado. Não é descendência de Abraão aquele que pode provar por meio de sua árvore genealógica, mas quem pode provar por meio de suas obras.

Assim como Deus escolheu Jacó no lugar de Esaú, Ele também foi escolhendo outros no desenvolver da história do povo de Israel, existem alguns exemplos, creio que o mais marcante é o de Rute, uma moabita, ou seja, não era descendente de Abraão, mas que foi escolhida por Deus para fazer parte da verdadeira descendência de Abraão.

Essas escolhas de Deus não acabaram no Antigo Testamento, muito pelo contrário, talvez o tempo inaugurado por Jesus, a nova dispensação, a era da Igreja, seja o tempo em que mais podemos ver isso. Deus escolheu muitos dentre os gentios para serem participantes da herança de Abraão. A era da Igreja, é a maior prova de que a herança não pertence àqueles que têm “direito legal”, mas sim àqueles que tendo sido escolhidos por Deus, têm o “direito real” a herança de Deus. Essa herança nada tem a ver com terra prometida, descendência abundante, mas remonta a promessa feita por Deus lá em Gênesis 3:15. É a promessa da salvação, a herança da vida eterna. Poderia falar muito sobre a herança, mas neste texto, meu propósito foi falar sobre os verdadeiros herdeiros, ou seja, aqueles que são escolhidos por Deus. Pois, para ser herdeiro não depende de quem seja seu pai, sua nação, as oportunidades que você teve, sua personalidade nem nada disso; para ser herdeiro é necessário ter sido escolhido por Deus para tal, pois não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (Romanos 9:16).

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

...se alegra com a justiça...

1 Coríntios 13 é um capítulo muito bem conhecido não somente no meio cristão, mas também entre aqueles que conhecem algum pouco a respeito da Bíblia. Acredito que esse capítulo seja muito conhecido por todos por causa do seu tema que parece tão atrativo, um assunto que parece fazer parte da vida de muitos e que poucos parecem não ter a consciência de tê-lo experimentado, a saber, o amor.

Muito do que é conhecido desse capítulo diz respeito ao lado que tem uma aparência mais sentimental do amor, fazendo com que esse conceito romantizado do amor seja fortalecido nas mentes das pessoas. Claro que essa percepção sentimental do amor é visto mais claramente por todos porque o homem tem a tendência de ver somente aquilo que lhe agrada, deixando de lado o que lhe parece discrepante com o seu próprio conceito do assunto.

Quero abordar uma característica do amor que é normalmente negligenciada. É dito no versículo seis que o amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Essa característica do amor não tem a menor aparência sentimental e, por isso, é esquecida. Paulo coloca a questão de uma maneira negativa, mas poderíamos dizer, de maneira positiva, que o amor se alegra na justiça.

A descrição do amor, por ser um atributo de Deus, deve estar em conformidade com o Ser de Deus. Se por acaso Paulo dissesse que o amor não é zeloso, ele estaria mentindo, pois o zelo é uma característica de Deus, sendo assim, é uma característica do amor. Se Paulo diz que o amor não se alegra com a injustiça, isso é verdadeiro porque, realmente, Deus não se alegra com a injustiça. Os atributos de Deus, e do amor, não podem ser excludentes, mas devem caracterizar os outros. Por exemplo, Deus é amor e Deus é justiça, então, o amor de Deus é um amor justo e a justiça de Deus é uma justiça de amor. Um não pode excluir o outro.

Como os atributos de Deus caracterizam um ao outro, isso torna impossível a qualquer um conhecer somente um desses atributos, se eu quero conhecer o amor de Deus, é necessário que eu também conheça a Sua justiça, afinal o amor de Deus é um amor justo. Mas, normalmente as pessoas querem conhecer somente os atributos “agradáveis” de Deus, mas isso é impossível. Isso leva a uma falta de entendimento de quem Deus é, e o que se conhece não é mais o Deus verdadeiro, mas um deus distorcido. Se não o entendimento de Deus é distorcido, com certeza o viver e suas práticas também serão.

A justiça de Deus é tão imprescindível ao Ser de Deus quanto o Seu amor. O amor jamais se sobrepõe a justiça e é por isso que Deus enviou Seu Filho para morrer, porque o pecado tinha que receber a punição devida. O amor de Deus foi demonstrado em Sua justiça e vice-versa. Assim como Deus é, assim deve ser o amor, o amor que pratica a injustiça ou mesmo se alegra com ela já não é mais amor, é um sentimento vazio, como vazio é um deus distorcido.

domingo, 3 de agosto de 2008

O ídolo do homem

Por estarmos inseridos num contexto católico, nós, cristãos brasileiros, temos a tendência de termos uma visão muito exterior da idolatria. Esse erro acaba nos cegando para o lado da idolatria que, na verdade, é a raiz dessa exterioridade que é tão praticada no catolicismo e em outras religiões pagãs. A raiz de um pecado é sempre pior do que o pecado em si, não sendo diferente neste caso, a raiz da idolatria é muito pior do que a idolatria em si, principalmente porque a raiz é sempre mais difícil de ser combatida do que o próprio ato.

Em João 12:42 é dito que alguns dos líderes dos judeus que haviam crido na pregação de Jesus não professaram tal crença publicamente. Por que eles não professaram aquilo que haviam crido? No versículo seguinte, o 43, é dada uma explicação, mas antes quero abordar um aspecto mais “palpável” dessa explicação. Já havia sido decretado que todo aquele que assumisse simpatia pelo ensino de Jesus, seria expulso da sinagoga e esta ameaça dos fariseus havia surtido efeito, pois muitos, com medo de serem excomungados do templo, um templo que já não era mais casa de oração, acabaram se calando sobre aquilo que criam. Este é o caso desses líderes, eles não queriam ser tidos como seguidores de um Mestre que era visto como blasfemo pelos fariseus. Eles não queriam ter suas imagens vinculadas com alguém que havia sido repudiado pelos principais religiosos do judaísmo, uma religião que estava morta em seus erros.

Nisto chegamos ao âmago da questão, que é a explicação dada no versículo 43. É-nos dito que a falta de profissão da crença por parte desses líderes se deve ao fato de terem amado mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Aqui está a raiz de toda idolatria real. Como eu disse, a idolatria exterior, ou seja, a ídolos, esculturas, imagens ou o que for, na verdade tem sua raiz no fato dos homens preferirem a glória de outra coisa que não a de Deus. É muito fácil combater a idolatria exterior, é muito fácil chutar a imagem, mas difícil mesmo é arrancar do coração a idolatria de si mesmo. O ídolo do homem é o pior que existe, pois está profundamente arraigado em seu coração. A sua própria imagem, em seu conceito, vale mais do que a glória de Deus. É isso que levou esses homens a não confessarem o que criam, eles não queriam ter suas imagens “manchadas”, suas imagens eram mais importantes do que a glória de Deus.

Todas as vezes que alguém zela por sua imagem mais do que pela verdade de Deus; todas as vezes que alguém prefere manter sua estima ao invés de confessar a Jesus, essa pessoa está se colocando em posição prioritária e isso, é dito na Bíblia, é idolatria, pois prioriza a criatura e não a Deus. Em Romanos 1:25, Paulo diz que isso é adorar e servir aos seres criados e não ao Criador. Só Deus merece honra, glória e poder, se isso não é verdadeiro na sua vida, pode ter a certeza de que você é um idólatra, tanto quanto ou pior do que aqueles que adoram as imagens de escultura. O que vale mais, a decadência do homem e das coisas criadas ou a glória do grande Criador de todo o universo?

sábado, 19 de julho de 2008

Constrangidos de pés lavados

Todos os cristãos estão bem familiarizados com a narração feita a respeito do momento em que Jesus lava os pés dos discípulos. Essa narrativa encontra-se somente no evangelho de João no capítulo 13 e é uma rica lição a respeito da humildade do Filho de Deus ao se curvar e realizar a tarefa que era feita pelos servos mais inferiores na sociedade daquela época.

Apesar da grande lição da humildade, outra lição me chama atenção neste texto, e é o constrangimento de Pedro no versículo 6 ao ver Jesus se inclinar para lhe lavar os pés. Acho muito interessante a reação de Pedro e eu não a entendia até que eu apliquei aquela ocasião à minha própria vida. Fiquei a imaginar como seria ter os meus pés sendo lavados por Jesus, o Deus em forma de homem. Realmente, que grande constrangimento seria.

O diálogo entre Jesus e Pedro nos indica algo a respeito daquele acontecimento. Jesus diz para Pedro no versículo 10 que não é necessário lhe lavar todo o corpo, pois este estava limpo, sendo assim, só teria que lavar os pés. O que quer dizer esse corpo limpo e o que quer dizer os pés sujos?

Com relação ao corpo limpo, creio que há pouca dúvida a respeito. Obviamente que Deus “lavou”, “purificou”, tornou “limpos” todos aqueles a quem Ele fez cumprir o Seu propósito eterno. E isso, como o próprio Cristo diz para Pedro, é feito uma só vez, sem a necessidade de haver uma repetição deste ato.

Se é assim, isso quer dizer que nunca mais nos sujamos, que não pecamos mais? Esse ensino seria mentiroso, afinal todos sabemos que mesmo aqueles que foram lavados por Deus, apesar de não viverem mais no pecado e não serem escravos do pecado, ainda assim às vezes acabam “manchando as suas vestes” com o pecado, ou, aplicando o texto de João 13, acabam por sujar os pés.

Ao sujar os nossos pés, necessitamos que eles sejam limpos e, como o prometido em 1 João 1:9, se confessarmos os nosso pecados Ele é fiel e justo para nos perdoar. Porém, lembram-se daquele constrangimento de Pedro? Agora, imaginem que sempre quando sujamos os nossos pés e entramos na presença de Deus, é necessário que Jesus os lave. Não mais o corpo inteiro, mas aos pés sim e o constrangimento é o mesmo. A transgressão, ou o pecado, dos filhos de Deus, não é mais como contra a lei, mas contra o amor do Pai e por isso há constrangimento.

Essa verdade que aprendemos tem que nos incitar a deixarmos cada dia mais o pecado de lado, a mortificá-lo, como dizem alguns teólogos. Sempre haverá constrangimento no coração daqueles que sabem contra Quem pecaram e sabem que não merecem ter os seus pés lavados por tão grande Deus. O amor de Deus excede todo entendimento.

terça-feira, 8 de julho de 2008

calar ou falar?


Espero que você já tenha passado por tal experiência, sabe aqueles momentos em que você vai orar por alguma situação específica, seja particular ou que tenha a ver com pessoas que você ama, e derrepende você parece não saber exatamente o que pedir e fica na dúvida o que deve falar ou se deve calar?
Por que será que isso acontece? Eu sei explicar por que isso acontece comigo particularmente, mas ainda bem que a Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, explica esse acontecimento de forma muito melhor do que eu. Em Romanos 8:26 Paulo diz que não sabemos o que pedir nas orações. Algumas traduções não deixam muito clara a idéia de que o problema não está em como orar, mas em como pedir. De qualquer forma o problema está no que pedir e não em como pedir. Paulo diz que isso é uma fraqueza nossa, fraqueza essa que é auxiliada pelo Espírito Santo, como Paulo diz neste versículo.
Por que eu digo que esta é uma experiência desejável por assim dizer? Porque os únicos que podem ter algum tipo de dúvida com relação ao que pedir são aqueles que sabem que, por serem criaturas pequenas e fracas, não sabem exatamente o que é o melhor em cada situação da vida. Mas, não somente sabem disso, mas também sabem que Deus, que é onipotente, onisciente e soberano, é Aquele que realmente sabe o que é o melhor, ou o que é adequado para aquela situação especificamente. Por causa dessa nossa falta de entendimento e por sabermos que Deus é quem realmente entende das coisas é que travamos em alguns momentos na hora da oração.
Felizmente não somos os únicos que sofremos disso. Alguns Salmos demonstram esse tipo de acontecimento quando o escritor começa pedindo por algo, mas parece perceber que ele não sabe de nada, comparado com Aquele a quem ele está se dirigindo e acaba mudando o rumo de sua oração. O próprio Paulo não sabia muito bem se ele desejava morrer para poder estar com Cristo logo ou se queria permanecer vivo e assim poder ajudar mais as igrejas e os irmãos.
Mas, às vezes a gente acaba orando mesmo pelas coisas erradas, assim como Paulo orou para que o seu espinho na carne fosse retirado, mas não foi atendido por Deus e na verdade levou uma pequena repreensão por isso. Repreensão pior levou Moisés em Deut. 3:23-26 ao pedir pra ver a a "boa região montanhosa e o Líbano".
Na oração, é melhor calar do que pedir aquilo que não se deve. É melhor somente ficar na presença de Deus e esperar que o Espírito mesmo te ajude e te fale o que pedir.Mas, como somos realmente fracos e às vezes nos esquecemos das coisas, devemos sempre acabar nossas orações como o próprio Filho de Deus, que dizia: "porém, não a minha vontade, mas a Sua". Deixe para quem realmente entende das coisas e esse é Deus.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Semelhantes a Jesus Cristo

Cada dia eu me supreendo mais com a Palavra de Deus que é a revelação de Sua mente. Me surpeendo alegremente pelo amor e pela compaixão de Deus pelos Seus filhos, ou como às vezes somos chamados, suas ovelhas. Esse amor e essa compaixão vão tão além daquilo que podemos imaginar que fez com que Deus não só nos salvasse, mas também derramasse sobre nós o Teu Espírito para que sejamos cada dia mais parecidos com Jesus Cristo.

Em João 7:37, Jesus fala sobre Ele mesmo como uma fonte de água onde as pessoas podem se achegar para serem saciadas. Até aí nenhuma surpresa, pois sendo Deus e Redentor, somente Ele pode saciar a sede dos pecadores. Mas, logo em seguida no verso 38, Jesus diz que fluirão do interior dos que crerem nEle, rios de água viva. O significado disso fica aparente pelo trecho anterior, ou seja, dos crentes fluirá aquilo que virá a saciar a sede dos pecadores. Para que não haja erro e alguns pensem que isso provêm deles mesmos, João já explica dizendo que isso se refere ao Espírito que viria a ser derramado. Sendo assim, esses rios não fluem de algo que os crentes têm neles mesmos, mas flui do derramar do Espírito sobre eles.

Como pode haver essa comparação? Que grande privilégio é esse de podermos ser comparados com Jesus Cristo. Ele é a água viva e do nosso interior fluem rios de água viva. Em Isaías 32:1-3 é dito que cada um servirá de esconderijo contra o vento, refúgio contra a tempestade, de torrentes de água em lugares secos e de sombra de grande rocha em terra sedenta. Mas, ao mesmo tempo, Jesus é o nosso esconderijo, refúgio, torrente de água e rocha.

Os cristãos são comparados com Jesus Cristo, mas como nos lembra João, somente quando tendo em si o Espírito e indo mais adiante, quando tendo o Espírito, dá lugar ao Espírito e recebe dEle um derramar contínuo de graça.

Eu desejo muito ver cristãos sendo esconderijo, refúgio, fonte de águas vivas e rocha. Nada seria mais eficaz para a conversão do mundo do que ser esse testemunho vivo. Não é dito que esses rios de água viva fluirão da BOCA dos crerem, mas do INTERIOR, do coração, do mais íntimo do ser. Ou seja, não pelo falar, mas pelo viver. Uma linda imagem que se assemelha àquela de Ezequiel 47, onde no verso 12 diz que as folhas das árvores que estão à margem das águas do rio servem de remédio e os frutos de alimento. O saciar, o alimento, a cura está no próprio ser do que crê, assim como o saciar, o alimento e a cura está no próprio ser de Jesus Cristo.

de volta a Belo Horizonte

Depois de duas semanas de recuperação após a cirurgia, é tempo de voltar a trabalhar. Voltamos para BH no domingo e já estamos trabalhando. Por aqui parece que nada mudou, claro que os bebês crescem sem parar e com isso vão se desenvolvendo cada vez mais. O Marcos, que é o mais novinho, já está respondendo muito mais aos estímulos da fala e, por isso, acaba mostrando mais desenvoltura na própria fala. Já o Alejandro tá mais espertinho e é bastante perceptível o desenvolvimento dele.

Agora, só nos restam cinco meses aqui em Belo Horizonte. Com isso, não é nada fácil se entregar totalmente ao trabalho. A gente fica com a cabeça pensando no futuro e planejando algumas coisas. Claro que a gente não se deixa levar por isso e lutamos para nos dedicarmos 100%, não é fácil, mas as meninas e os bebês merecem todo o nosso esforço.

Logo eu enviarei a minha carta de novidades contando mais detalhadamente algumas coisas, se vocês estiverem interessados, esperem mais um pouco e poderam ler tudo na carta. Quanto aos que estão conhecendo o trabalho agora e ainda não recebem a carta, mas gostariam de recebe-la, por favor me informe o seu email na caixa de comentários e assim eu poderei enviar para vocês também.

Até a próxima.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Marchando sem o calçado do evangelho




Passou na rede Bandeirantes, no programa CQC, uma matéria sobre a Marcha para Jesus, onde o repórter fazia algumas perguntas bíblicas para alguns dos participantes daquele evento. As perguntas tinham o intuito de desmoralizar os líderes mais proeminentes desse evento, ou seja, Estevam e Sônia Hernandes.


O que mais me chocou foi que um repórter não cristão, com conhecimento bíblico irrelevante, demonstrou mais conhecimento bíblico do que os participantes de um evento evangélico que tem como proposta mostrar à sociedade os valores cristãos.


Anteriormente o povo não tinha acesso a Bíblia, ela só poderia ser achada nas línguas originais – grego e hebraico – ou em latim. Como se isso não fosse o suficiente, os cultos eram ministrados todos em latim. Na Inglaterra houve um homem que precedeu a Reforma, chamado William Wycliff, que não se conformou com tal absurdo e começou um movimento para traduzir a Bíblia para o inglês. Claro que houve oposição, mas ele realizou o trabalho. Lutero, aproximadamente 150 anos depois de Wycliff também lutou por traduções da Bíblia para a língua materna do povo.
Graças a homens como esses, hoje em dia a Bíblia já foi traduzida para 2.287 (segundo dados de 2002 de UBS World Report). O intuito dos reformadores ao traduzir a Bíblia era para que o povo tivesse acesso à revelação de Deus. Se isso ocorresse, haveria uma possibilidade menor de manipulação do povo por parte do clero. O clero, na época anterior a Reforma, tinha todo o domínio da Bíblia para poder manipulá-la na direção que quisesse.


O direito de se ter a Bíblia em nossa língua foi conquistado há mais ou menos 350 anos com a tradução de João Ferreira de Almeida. Todos os brasileiros têm acesso à Palavra de Deus, mas ao que me parece os evangélicos não tem se utilizado desse grande privilégio. O conhecimento bíblico deles é inferior a de um repórter não cristão. Que diferença tem feito para os evangélicos brasileiros, no que se refere ao conhecimento bíblico, terem à disposição a Bíblia em português? Será que eles têm mais conhecimento bíblico do que os europeus medievais de antes da Reforma que somente tinham a Bíblia em latim e ouviam os cultos em latim?


É por causa dessa falta de conhecimento bíblico que os líderes evangélicos, assim como o clero da Igreja Católica medieval, manipulam o povo como querem. Se eles não têm dado o valor devido à Bíblia, eles têm dado valor ao quê? Se eles não têm ouvido sobre a Palavra de Deus nos cultos, o que eles têm ouvido?


Mais felizes são os chineses perseguidos, que por não terem acesso legal à Bíblia, a valorizam como a coisa mais preciosa que eles podem ter, ou seja, dando a ela o valor que merece.

terça-feira, 10 de junho de 2008

peregrinos com saco de lixo ou com baú?

Havia em Israel uma festa que se chamava Festa das Tendas. Todo o povo se reunia e acampava em tendas, normalmente feitas nos terraços das casas, durante sete dias. Faziam isso para celebrar ou rememorar o tempo de viagem após o êxodo do Egito. O motivo específico dado por Deus a Moisés é para que o povo se lembrasse que naquele tempo Deus fez os hebreus habitarem em tendas. Todos morariam em tendas e não fariam nenhum trabalho servil, é assim que ocorria a Festa das Tendas.

Em toda a Bíblia existe uma grande ênfase dada à peregrinação, isso tanto no AT com relação aos israelitas quanto no NT com relação aos cristãos. Como eu disse acima, essa ênfase é muito bem vista pela Festa das Tendas, e não somente nisso, mas também em toda a história do povo de Israel, começando com Abraão, que nunca teve um território realmente próprio. Já no NT, a gente pode ver isso de diversas formas. Os cristãos primitivos eram chamados de “aqueles do Caminho” ou somente os do “Caminho”. É-nos dito que temos uma cidadania celestial, a nossa casa é a Nova Jerusalém, não somos deste mundo etc. Por esses motivos, esse aspecto de peregrinação sempre foi muito forte na História do Cristianismo. Creio que a época que se vê isso mais claramente é no século 17 com os Puritanos. Isso fica evidente com o nome de um dos clássicos dos livros puritanos, O Peregrino de John Bunyan. Essa enfase não era puramente teórica ou doutrinária, mas muito prática, nos escritos puritanos, é muito claro ver que eles gastavam tempo e se esforçavam na preparação adequada para a morte. Se por acaso houvesse algum cristão com medo da morte, ele nem era tido como digno deste nome. Os mártires do primeiro século e do século 16 são provas reais disto. Eles se alegravam em serem visto como merecedores de morrer pelo nome de Jesus. Isso só lhes era possível porque tinham pleno entendimento de que eram puramente peregrinos neste mundo e que a cidadania deles era do céu.

A peregrinação nunca é algo muito confortável. Para quem está acostumado a viajar muito sabe que é algo desconfortável estar longe de seu verdadeiro lar. Você tem que ceder em várias aspectos, você tem que se viver como alguém que não está realmente adaptado entre diversas coisas. Se é assim para simples viagens temporais, quanto mais quando observamos a nossa peregrinação neste mundo que pode durar 80 anos ou ainda mais. Imaginem só ter que “viver em tendas” durante 80 anos.

Durante essa peregrinação, não podemos nos apegar as coisas que fazem parte desta terra passageira, é necessário se apegar àquilo que faz parte do lugar a que pertencemos, é preciso que tenhamos olhos voltados para as coisas que são do nosso lar. Graças a Deus, Ele não nos deixou totalmente isolados das coisas que pertencem ao céu. Ele permitiu que pudéssemos ter ou “adquirir” coisas eternas, mesmo aqui neste deserto efêmero. Assim como os judeus puderam ter um tabernáculo, os dez mandamentos, o maná etc. Nós também temos a Igreja, a Bíblia, o Espírito Santo e tudo isso nos possibilita desfrutar de coisas eternas e espirituais e ir guardando essas coisas nas nossas bagagens que nos acompanham até que cheguemos no nosso destino final.
Sim, levamos conosco uma bagagem. Podemos ser fracos ou fortes espiritualmente. Existem graus de maturidade no cristianismo e eu vejo isso como uma consequência da bagagem que estamos levando conosco. Essa bagagem é, primordialmente, aquilo que conhecemos e entendemos a respeito de Deus e das coisas espirituais e secundariamente das experiências que temos. As experiências agregam bagagem, mas acima disso, mostra se a bagagem que temos é valiosa ou não. Por meio de experiências podemos saber se temos bagagem o suficiente pra enfrentarmos as dificuldades da peregrinação, se temos mantimento o suficiente, se temos vestimentas suficiente para aguentarmos a sequidão, a fome, a doença etc. Se por acaso tivermos, a experiência irá potencializar a bagagem que já tínhamos e ainda nos dará mais bagagem valiosa.

Numa peregrinação a bagagem pode ser adequada ou não. Vejo que hoje em dia muitos que são “do Caminho” não têm levado a bagagem adequada e nem se preocupam com isso. Na verdade, é muito claro que muitos peregrinos de hoje em dia, que fazem parte da igreja evangélica, nem estão levando uma mala, eles acabam por levar um saco de lixo, daqueles pretos de 100 litros. O que eles têm acumulado como bagagem não é comida e roupa, mas puro lixo que não lhes servirão de nada no momento em que eles precisarem se utilizar deles. Talvez, dê somente para queimar, assim como acontecerá com aqueles a quem Paulo diz que serão salvos como que pelo fogo. Outros levam consigo uma mala tão pequena que se parecem mais com aquelas pequenas mochilas de jogador de futebol que só cabe o meião e a caneleira. É terrível, mas essa é a verdade a respeito dos “novos peregrinos”, a bagagem deles não é suficiente nem para aguentar uma decepção no trabalho, uma doença ou coisas mais insignificantes como o simples fatos de não receberem aquilo (qualquer coisa material que jamais fez parte da Nova Jerusalém, mas que é muito vista na Babilônia) que querem. Para aguentar um martírio, como os cristãos primitivos, para aguentar a perseguição sofrida pelos evangélicos na Inglaterra do século 16, para aguentar mortes súbitas como acontecia na época dos puritanos, onde muitos perdiam esposas, familiares e amigos, é necessário uma bagagem muito adequada. O saco de lixo e a mochilinha de peladeiro não adianta de nada nesses momentos.

O conhecimento de Deus, que leva a confiança nEle, o conhecimento das coisas espirituais que leva a um desvencilhamento das coisas deste mundo são coisa valiosas. Poderia muito bem dizer que o verdadeiro peregrino não tem uma mala, mas sim um baú cheio de riquezas e todo tipo de coisa valiosa que não permitirão que ele passe por qualquer dificuldade nessa vida. Não que ele não irá sofrer dores e perdas, mas ele estará bem preparado para enfrentar tudo isso, pois ele possui riquezas que não fazem parte do deserto, mas que fazem parte de Canãa, não fazem parte da Babilônia, mas fazem parte de Jerusalém, não fazem parte deste mundo, mas sim daquele que ainda está por vir. Preparem suas bagagens!