terça-feira, 10 de junho de 2008

peregrinos com saco de lixo ou com baú?

Havia em Israel uma festa que se chamava Festa das Tendas. Todo o povo se reunia e acampava em tendas, normalmente feitas nos terraços das casas, durante sete dias. Faziam isso para celebrar ou rememorar o tempo de viagem após o êxodo do Egito. O motivo específico dado por Deus a Moisés é para que o povo se lembrasse que naquele tempo Deus fez os hebreus habitarem em tendas. Todos morariam em tendas e não fariam nenhum trabalho servil, é assim que ocorria a Festa das Tendas.

Em toda a Bíblia existe uma grande ênfase dada à peregrinação, isso tanto no AT com relação aos israelitas quanto no NT com relação aos cristãos. Como eu disse acima, essa ênfase é muito bem vista pela Festa das Tendas, e não somente nisso, mas também em toda a história do povo de Israel, começando com Abraão, que nunca teve um território realmente próprio. Já no NT, a gente pode ver isso de diversas formas. Os cristãos primitivos eram chamados de “aqueles do Caminho” ou somente os do “Caminho”. É-nos dito que temos uma cidadania celestial, a nossa casa é a Nova Jerusalém, não somos deste mundo etc. Por esses motivos, esse aspecto de peregrinação sempre foi muito forte na História do Cristianismo. Creio que a época que se vê isso mais claramente é no século 17 com os Puritanos. Isso fica evidente com o nome de um dos clássicos dos livros puritanos, O Peregrino de John Bunyan. Essa enfase não era puramente teórica ou doutrinária, mas muito prática, nos escritos puritanos, é muito claro ver que eles gastavam tempo e se esforçavam na preparação adequada para a morte. Se por acaso houvesse algum cristão com medo da morte, ele nem era tido como digno deste nome. Os mártires do primeiro século e do século 16 são provas reais disto. Eles se alegravam em serem visto como merecedores de morrer pelo nome de Jesus. Isso só lhes era possível porque tinham pleno entendimento de que eram puramente peregrinos neste mundo e que a cidadania deles era do céu.

A peregrinação nunca é algo muito confortável. Para quem está acostumado a viajar muito sabe que é algo desconfortável estar longe de seu verdadeiro lar. Você tem que ceder em várias aspectos, você tem que se viver como alguém que não está realmente adaptado entre diversas coisas. Se é assim para simples viagens temporais, quanto mais quando observamos a nossa peregrinação neste mundo que pode durar 80 anos ou ainda mais. Imaginem só ter que “viver em tendas” durante 80 anos.

Durante essa peregrinação, não podemos nos apegar as coisas que fazem parte desta terra passageira, é necessário se apegar àquilo que faz parte do lugar a que pertencemos, é preciso que tenhamos olhos voltados para as coisas que são do nosso lar. Graças a Deus, Ele não nos deixou totalmente isolados das coisas que pertencem ao céu. Ele permitiu que pudéssemos ter ou “adquirir” coisas eternas, mesmo aqui neste deserto efêmero. Assim como os judeus puderam ter um tabernáculo, os dez mandamentos, o maná etc. Nós também temos a Igreja, a Bíblia, o Espírito Santo e tudo isso nos possibilita desfrutar de coisas eternas e espirituais e ir guardando essas coisas nas nossas bagagens que nos acompanham até que cheguemos no nosso destino final.
Sim, levamos conosco uma bagagem. Podemos ser fracos ou fortes espiritualmente. Existem graus de maturidade no cristianismo e eu vejo isso como uma consequência da bagagem que estamos levando conosco. Essa bagagem é, primordialmente, aquilo que conhecemos e entendemos a respeito de Deus e das coisas espirituais e secundariamente das experiências que temos. As experiências agregam bagagem, mas acima disso, mostra se a bagagem que temos é valiosa ou não. Por meio de experiências podemos saber se temos bagagem o suficiente pra enfrentarmos as dificuldades da peregrinação, se temos mantimento o suficiente, se temos vestimentas suficiente para aguentarmos a sequidão, a fome, a doença etc. Se por acaso tivermos, a experiência irá potencializar a bagagem que já tínhamos e ainda nos dará mais bagagem valiosa.

Numa peregrinação a bagagem pode ser adequada ou não. Vejo que hoje em dia muitos que são “do Caminho” não têm levado a bagagem adequada e nem se preocupam com isso. Na verdade, é muito claro que muitos peregrinos de hoje em dia, que fazem parte da igreja evangélica, nem estão levando uma mala, eles acabam por levar um saco de lixo, daqueles pretos de 100 litros. O que eles têm acumulado como bagagem não é comida e roupa, mas puro lixo que não lhes servirão de nada no momento em que eles precisarem se utilizar deles. Talvez, dê somente para queimar, assim como acontecerá com aqueles a quem Paulo diz que serão salvos como que pelo fogo. Outros levam consigo uma mala tão pequena que se parecem mais com aquelas pequenas mochilas de jogador de futebol que só cabe o meião e a caneleira. É terrível, mas essa é a verdade a respeito dos “novos peregrinos”, a bagagem deles não é suficiente nem para aguentar uma decepção no trabalho, uma doença ou coisas mais insignificantes como o simples fatos de não receberem aquilo (qualquer coisa material que jamais fez parte da Nova Jerusalém, mas que é muito vista na Babilônia) que querem. Para aguentar um martírio, como os cristãos primitivos, para aguentar a perseguição sofrida pelos evangélicos na Inglaterra do século 16, para aguentar mortes súbitas como acontecia na época dos puritanos, onde muitos perdiam esposas, familiares e amigos, é necessário uma bagagem muito adequada. O saco de lixo e a mochilinha de peladeiro não adianta de nada nesses momentos.

O conhecimento de Deus, que leva a confiança nEle, o conhecimento das coisas espirituais que leva a um desvencilhamento das coisas deste mundo são coisa valiosas. Poderia muito bem dizer que o verdadeiro peregrino não tem uma mala, mas sim um baú cheio de riquezas e todo tipo de coisa valiosa que não permitirão que ele passe por qualquer dificuldade nessa vida. Não que ele não irá sofrer dores e perdas, mas ele estará bem preparado para enfrentar tudo isso, pois ele possui riquezas que não fazem parte do deserto, mas que fazem parte de Canãa, não fazem parte da Babilônia, mas fazem parte de Jerusalém, não fazem parte deste mundo, mas sim daquele que ainda está por vir. Preparem suas bagagens!

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