domingo, 14 de setembro de 2008

Igreja templo ou Igreja tabernáculo?

Dois foram os lugares da habitação de Deus – quero lembrar que aqui não vou me deter na explicação da adoração a Deus em espírito e em verdade, sabemos muito bem que Deus não habita, ou não se limita, a um lugar ou a uma edificação - na história de Israel. Após terem saído do Egito, Deus deu ordens a Moisés para que preparasse o tabernáculo. Este local seria utilizado para realizar as ofertas, os holocaustos e a adoração a Deus. Após o estabelecimento do povo na terra prometida por Deus, Canãa, surgiu um novo desejo em Davi para se fazer uma construção monumental que viria ser a Casa de Deus. Davi não realizou seu desejo por que Deus o proibiu, e quem colocou em prática o projeto que Deus deu a Davi foi seu filho Salomão.

O tabernáculo era basicamente uma tenda com grandes proporções. Sua estrutura era de cordas, cortinas de pêlos de cabra, tábuas de madeira e cortinas de linho e estofo. Toda descrição se encontra no livro de Êxodo. A maior característica do tabernáculo era sua mobilidade, afinal o povo estava peregrinando pelo deserto em direção à terra prometida. O povo não podia ficar preso em um único lugar, o tabernáculo tinha que poder ser montado e desmontado de acordo com a necessidade de mudança de local.

Já o templo era uma edificação monumental. Obviamente que a grandeza do templo não pode ser comparada com edificações modernas, pelo menos não no que diz respeito ao seu tamanho. Ainda assim sua beleza de detalhes e riqueza de aparatos ainda podem ser muito admiradas. O fato de Davi ter desejado construir o templo pode ser explicado de duas formas. A primeira é porque Davi achou que Deus estava sendo menosprezado por “habitar” numa tenda e o segundo motivo é que o povo estava estabelecido na terra prometida já havia algum tempo, não havia mais a necessidade da mobilidade que o tabernáculo oferecia.

Os dois lugares ofereciam ao povo a oportunidade de adorar a Deus, mas cada um deles foi feito por ocasiões diferentes. O que gostaria de pensar neste momento é qual desses dois lugares expressa melhor a forma como a Igreja deve ser no nosso tempo. Será que a Igreja de Jesus Cristo está no momento adequado de ser comparado ao templo ou ao tabernáculo?

A resposta a essas perguntas deve ser direcionada pelo momento em que vivemos. Assim como o lugar da habitação de Deus na época dos israelitas se deu ao momento em que eles viviam.

Vamos primeiro pensar na ocasião do templo. O templo foi construído porque o povo já havia se estabelecido na terra prometida. Na Bíblia, existe uma conotação espiritual pata a terra prometida. É dito que um dia o povo de Deus, gentios e judeus, habitará na Nova Jerusalém. Pra mim essa é uma indicação de que o povo de Deus ainda não alcançou essa terra prometida, ainda não estamos estabelecidos no lugar onde Deus nos prometeu. Por isso, creio que a Igreja não pode ter uma estrutura tal como a do templo, não estamos vivendo o momento para isso. Estar preso a um determinado lugar é simplesmente perder de vista o propósito real da Igreja de Cristo na terra, é perder de vista, e não entender, qual é o momento que vivemos.
Sendo assim, eu acredito que a Igreja deve ser melhor comparada com o tabernáculo, pois este foi construído na época da peregrinação do povo. Como eu já disse em outro post, e não preciso me repetir, os cristãos são peregrinos. Como pode um peregrino se estabelecer em um lugar definitivamente? Isto exclui a própria natureza do peregrino, que é a sua mobilidade, se mudando de um lugar para o outro.

O que eu realmente quero dizer com isso? Obviamente não quero dizer que as igrejas devem sair das construções de alvenaria e fazer suas reuniões em grandes tendas (se bem que isso até seria interessante). Não, assim como a terra prometida tem uma conotação espiritual na Bíblia, é bom nós entendermos que a Igreja tem uma essência espiritual que vale muito mais do que sua estrutura física. Com isso, eu digo que a estrutura da Igreja, não a física, mas a sua essência, deve ser simples, leve, móvel e isso tudo irá possibilitar a mobilidade necessária para que a Igreja cumpra realmente o seu chamado de proclamar a mensagem de Deus, o evangelho de Cristo, até os confins do mundo.

Essa característica da essência irá refletir em ações e também na própria estrutura física das igrejas. Por exemplo, entre as prioridades dos gastos, não estará compra de novas cadeiras, compra de equipamentos de som, construção de cantinas, acarpetamento do piso entre outras coisas de mesma natureza. As prioridades estarão nos projetos sociais da igreja ou de outras organizações, no envio e sustento de missionários, investimento na preparação de membros que desejam servir com mais qualidade dentro da igreja etc.

Vivemos no deserto e não na terra prometida, o momento em que vivemos e, consequentemente, nossa essência irão definir a nossa estrutura. Infelizmente as igrejas têm errado nessas duas coisas, elas não entendem o momento em que vivemos e não entendem qual venha a ser a sua essência. Por isso, vemos tantos missionários sem sustento, tantos projetos sociais falidos, tanta pobreza e tanto descuido da igreja em tudo isso, mas ao mesmo tempo vemos tantos prédios e tantos púlpitos suntuosos, tantos equipamentos de som que dão inveja a estúdios profissionais, tanto ar condicionado, tanto carpete, tanta cadeira amofadada, tudo para fazer com que os membros se sintam o menos desconfortáveis possível. Assim, a Igreja se imobiliza, matando a sua própria natureza, sua própria essência de mobilidade.

Estejamos com lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão, comeremos às pressas; essa é a Páscoa do Senhor (Êxodo 12:11, essa é a Igreja do Cordeiro pascal).

3 comentários:

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Oi Caio,
legal o seu Blog.
Sou de BH em qual igreja vc está servindo aí?
Saudações,
Roger

caioperes disse...

No momento estou servindo na Jocum; por ser um trabalho de tempo integral não tenho tido a oportunidade de trabalhar em nenhuma igreja, mas frequento a a Comunidade Caverna de Adulão aqui em BH.
Valeu pelo elogio, espero vê-lo por aqui com frequência.
Saudações.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Minha mulher passou um período na Jocum, da rua Itajubá.
Sempre quando vamos a BH gosto de ir lá, é uma missão que me inspira muito. Até lá no cafundel dos Judas em Contagem gosto de ir pois é um trabalho muito bonito, principalmente do Ceifa.